Por Juventude em Transição
Lisboa vai ser o palco mundial da medicina de género a partir desta 6ª feira e até domingo, reunindo a nata dos profissionais especializados em questões de identidade de género mas com posições diametralmente opostas: de um lado a Genspect, que defende uma abordagem saudável ao sexo e ao género, apelando a uma investigação sobre as causas do sofrimento de género e, na ausência de tais provas, seguir uma abordagem menos invasiva e a WPATH (World Professional Association for Transgender Health), que promove uma abordagem afirmativa assente em tratamentos hormonais e cirurgias e que tem estado envolvida em múltiplas polémicas (mas já lá vamos).
Este ano, a terceira conferência da Genspect, a “Bigger Picture” realizar-se-á em Lisboa, no Altis Hotel, de 27 a 29 de setembro, contrapondo-se ao evento da World Professional Association for Transgender Health (WPATH) que decorre na mesma altura na cidade, a escassos metros.
Centrado no tema “Reframing the Future”, que consiste em mudar a conversa da identificação de problemas para a exploração de soluções, o evento de três dias reúne especialistas de várias áreas do discurso de género, incluindo cientistas, investigadores, juristas, médicos, psicólogos, sociólogos, educadores, feministas e detransicionistas.
Durante mais de 40 anos, a WPATH tem estado na vanguarda da institucionalização da ideologia trans, acelerando a medicalização desnecessária e prejudicial de jovens não-conformes com o género e atacando, difamando e silenciando os críticos da sua abordagem. Na opinião da Genspect, o WPATH causou danos incalculáveis a crianças, jovens e adultos vulneráveis com problemas de género.
A Genspect acredita que, para a maioria dos jovens, (uma via médica) A INTERVENÇÃO HORMONAL E CIRÚRGICA não é a melhor forma de gerir a angústia relacionada com o género. A GENSPECT reconhece a elevada ocorrência de comorbilidades, como o autismo e a perturbação de défice de atenção e hiperatividade (PHDA), entre as crianças e os jovens que questionam o seu género, e que um número desproporcionado de jovens atraídos pelo mesmo sexo pode também acabar por seguir uma via médica e cirúrgica
A conferência “Bigger Picture” conta com oradores de renome, como Kathleen Stock, Lionel Shriver, Helen Joyce e Graham Linehan. Além disso, muitos terapeutas, clínicos, detransicionistas e pais de pessoas que passaram pela transição partilharão as suas histórias, relatando o profundo impacto que a transição de género teve nas suas carreiras, vidas e famílias.
Os Ficheiros WPATH, da autoria da jornalista Mia Hughes e divulgados em março de 2024, expuseram “a negligência médica generalizada em crianças e adultos vulneráveis”. Revelaram que a organização não cumpre as normas da medicina baseada em provas e que os membros da WPATH discutem frequentemente a improvisação de tratamentos à medida que vão avançando. Os membros estão plenamente conscientes de que as crianças e os adolescentes não conseguem compreender as consequências para toda a vida dos “cuidados de afirmação do género” e, em alguns casos, devido à fraca literacia em matéria de saúde, nem os seus pais.
Mia Hughes será uma das muitas oradoras da conferência “The Bigger Picture”. Ao seu lado, estará o Dr. Eithan Haim, que tem uma vasta experiência em cirurgia pediátrica no Texas Children’s Hospital e que ganhou reconhecimento por ter denunciado o facto de continuarem a ser efetuados procedimentos cirúrgicos de transição de género em menores no seu hospital, apesar de se ter afirmado que tinham cessado.
Também dará uma palestra a Dra. Louise Irvine, que foi médica de clínica geral em Londres durante 30 anos e que agora se concentra no apoio a clínicos que desafiam a ortodoxia prevalecente da medicina afirmativa do género.
Esta posição foi muito reforçada pelo lançamento do Relatório Cass, em maio de 2024, no qual a pediatra britânica Hilary Cass passou 4 anos a investigar todas as provas envolvidas na “medicina do género”. Concluiu que “para a maioria dos jovens, a via médica pode não ser a melhor forma de gerir a sua angústia relacionada com o género”. E descobriu que, embora tenha sido publicada uma quantidade considerável de investigação neste domínio, “a fraca qualidade dos estudos publicados” significa que não existe uma base de provas fiável “sobre a qual se possam tomar decisões clínicas, ou para que as crianças e as suas famílias possam fazer escolhas informadas”.
Esta falta de provas tem levado muitos jovens a procurar erradamente tratamentos médicos e cirurgias, para mais tarde se arrependerem. Estes indivíduos fazem parte de uma comunidade em crescimento conhecida como “detransicioners”, que estão agora a falar para alertar os outros sobre os perigos deste caminho. Também necessitam de cuidados médicos e terapêuticos adequados, tendo sido largamente abandonados pelas clínicas de género que inicialmente os trataram. Em resposta, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) anunciou recentemente planos para criar a primeira clínica dedicada aos “detransicioners”.
Entre os detransicionistas que irão falar em Lisboa contam-se Laura Becker, uma detransicionista americana e autora de “Surviving the Trans Myth”, que falará sobre a psicologia da detransição. E Emelie Köhler, uma mulher detransicionada da Suécia, que apareceu pela primeira vez na série de documentários “The Trans Train”. Desde então, tornou-se uma figura pública nos meios de comunicação suecos, suscitando críticas em relação à ideologia de género e à medicalização da disforia de género.
A transição não só causa estragos no indivíduo como também tem efeitos devastadores em toda a família. Os jovens que fazem a transição rejeitam muitas vezes as suas famílias quando estas se preocupam com a sua decisão, o que por vezes leva ao afastamento total e à desagregação familiar.
Uma dessas mães, Lynn Chadwick, enfermeira de cuidados intensivos neonatais com 28 anos de experiência, é mãe de duas crianças trans-identificadas e teve de suportar a dor do afastamento. Lynn Chadwick falará em Lisboa sobre o seu trabalho de defesa dos pais de jovens transicionados em várias organizações e sobre o seu apoio ao Themis Resource Fund, organização que presta apoio jurídico às pessoas que acreditam ter sido prejudicadas pelos “cuidados de afirmação do género”.
Haverá também testemunhos de outras pessoas que foram severamente afetadas pela transição. Emma Thomas é filha de um pai transexual que fez a transição nos anos 80, enquanto ele tinha a sua custódia, e escreve e faz campanha em nome dos filhos de pessoas trans, sendo a fundadora da childrenoftransitioners.org.
Entretanto, Shannon Thrace – que contou a história da dissolução da sua relação de quinze anos quando o marido começou a identificar-se como transgénero no seu livro, ’18 Months: A Memoir of a Marriage Lost to Gender Identity” (18 meses: memórias de um casamento perdido devido à identidade de género) – também falará na reunião.
Além disso, a conferência “The Bigger Picture” contará com a participação de vários oradores de renome, incluindo o psicanalista Marcus Evans e a psicoterapeuta psicanalítica Sue Evans, que foram denunciantes na Clínica Tavistock, atualmente encerrada, em Londres, no Reino Unido.
A diretora do Genspect, Stella O’Malley, e a apresentadora do podcast “Gender: A Wider Lens”, Sasha Ayad, entrevistarão ‘Billboard Chris’ – um ativista canadiano reconhecido pela sua defesa pública, nomeadamente no que diz respeito aos direitos das crianças e às discussões sobre a identidade de género. CHRIS ganhou RECONHECIMENTO ao usar cartazes e utilizar espaços públicos para suscitar conversas e debates.
Haverá também lugar à projeção do filme: ‘Lost Boys: Searching for Manhood’ com um painel de discussão a seguir.
O alinhamento completo da conferência pode ser consultado aqui: https://genspect.org/the-bigger-picture-lisbon/
WPATH também em congresso
Presente também no congresso da Genspect vai estar Mia Hugues, a jornalista que escreveu sobre o que já está a ser apelidado do maior escândalo médico do século, com repercussões um pouco por todo o mundo, mas que por cá, a comunicação social ignorou… Falamos da denúncia que recaiu sobre a WPATH (World Professional Association for Transgender Health), associação que tem sido uma base de referência nas questões de saúde transgénero em muitos países (Portugal incluído), e que veio demonstrar a falta de evidências médico-científicas no tratamento de pessoas trans.
A notícia surgiu de forma bombástica através de um extenso relatório de 242 páginas da autoria da jornalista Mia Hugues e publicado pelo Environmental Progress (EP), fundado pelo jornalista Michael Shellenberger e que veio comprovar muitas das suspeitas e críticas que se apontavam à WPATH, cuja abordagem afirmativa das pessoas com disforia de género através das terapias hormonais e cirúrgicas levantava muitas dúvidas, que se adensaram à medida que se acumulam os casos de jovens arrependidos que foram sujeitos a tratamentos e intervenções com consequências irreversíveis. Uma abordagem afirmativa que acompanha o disparar de casos de pessoas trans, um pouco por todo o mundo.
Denúncias
Escreve o The Guardian: “A transição médica das crianças tornou-se uma das questões mais controversas e polarizadoras do nosso tempo. Para alguns, é um escândalo médico. Para outros, é um tratamento que salva vidas. Assim, quando centenas de mensagens e ficheiros trocados num fórum interno de médicos e profissionais de saúde mental WPATH foram revelados, isso certamente despertou interesse. A WPATH descreve-se como uma ‘organização profissional e educacional interdisciplinar dedicada à saúde transgénero’. Mais significativamente, produz guias de orientação que, afirma, articulam o ‘consenso profissional’ sobre a melhor forma de ajudar as pessoas com disforia de género”. Mas apesar do seu título pomposo, afirma o The Guardian, “a WPATH não é apenas um organismo profissional – uma proporção significativa dos seus membros são ativistas – nem representa a visão ‘mundial’ sobre como cuidar deste grupo de pessoas” até porque, sublinha-se, “não existe um acordo global sobre as melhores práticas”.
E as mensagens agora reveladas – apelidadas de arquivos WPATH – são “perturbadoras”, afirma o reputado jornal britânico. E dá exemplos: “Num dos vídeos, há médicos a reconhecer que os pacientes são por vezes demasiado jovens para compreenderem completamente as consequências dos bloqueadores de puberdade e das hormonas para a sua fertilidade. É sempre uma boa teoria falar sobre preservação da fertilidade com uma jovem de 14 anos, mas sei que estou a falar para uma parede em branco”, disse um endocrinologista do Canadá, entre risos da plateia presente no fórum. O médico refere-se à recomendação que é dada às raparigas que transacionam para rapazes, sujeitas a histerectomias (operação cirúrgica que consiste na remoção do útero) para congelarem óvulos em clínicas de fertilização – um negócio também em ampla expansão – caso um dia queiram assegurar a sua descendência.
Também no The Telegraph se deu grande destaque à polémica denúncia na sua edição de 12 de março, num texto com o título – “Os nossos piores receios sobre os tratamentos na saúde transgénero foram confirmados”. Refere-se no artigo que as orientações terapêuticas recomendadas pela WPATH são habitualmente apelidadas de “melhores práticas” pela Associação Médica Britânica, pelo Conselho Médico Geral e pelo Royal College of Psychiatrists e implementadas no NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido. Mas, sublinha-se, a WPATH não deveria ser encarada como um organismo de referência – “Muitos presumem que se tratava de um corpo profissional internacional de médicos altamente qualificados. Não é. Três quartos dos seus membros residem nos Estados Unidos e muitos são ativistas que defendem que qualquer pessoa que se identifique como trans possa exigir acesso a tratamento de afirmação de género, o que para as crianças significa bloqueadores da puberdade. Esta não é uma organização médica com qualquer autoridade formal. Qualquer um pode pagar algumas centenas de dólares para aderir”, salienta-se também no Telegraph, realçando que os padrões de cuidados (Standard of Care) da WPATH têm sido seguidos pelo NHS, pelo Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Género (GIDS), por grupos como Stonewall e Mermaids (filiada na ILGA Europa), Press for Change e pelo Governo Escocês. Tal como em Portugal onde a Estratégia de Saúde para as pessoas LGBTI (que está a ser aplicada nos centros de saúde) foi implementada sob a coordenação da psiquiatra sexóloga Zélia Figueiredo, grande adepta das terapias afirmativas e da orientação da WPATH. Esta médica foi indigitada para o cargo pelo anterior governo PS.
Das mastectomias sem mamilos aos eunucos
No artigo do “Telegraph” dão-se alguns exemplos práticos do que foi partilhado no fórum interno da WPATH: “Os ficheiros do WPATH falam de mastectomias sem mamilos, incontinência provocada pelas cirurgias de mudança de sexo e “anulação” – isto é, criação de eunucos. Há médicos a falar de situações de cancro causado pelas terapias hormonais prescritas em adolescentes e em operações onde é feita uma vagina falsa com a manutenção do pénis”. Neste último caso tratou-se de um pedido de um homem que se assume como uma pessoa não-binária.
As mensagens revelaram uma frieza preocupante entre os profissionais em relação a graves problemas de saúde mental pré-existentes de pessoas com disforia de género. Um médico endocrinologista queixou-se do tempo de espera pedido pelo psiquiatra da equipa para a medicação com terapias hormonais de uma jovem com dissonância cognitiva, transtorno de stress pós-traumático, tendências esquizofrénicas e depressão. Outros participantes do fórum desconsideraram as preocupações do psiquiatra e reforçaram que provavelmente não há razão para esperar para iniciar a testosterona. Um dos médicos presentes nessa reunião afirmou mesmo que “em geral, a doença mental não é motivo” para adiar cirurgias de género. Um outro até se “vangloriou” de ter validado todas as pessoas que procuravam cirurgias, exceto uma, que “teve alucinações durante a sessão de avaliação”.
Os polémicos ficheiros que chegaram às mãos da EP por pessoas que participaram no fórum interno, foram tema de profuso debate em vários meios de comunicação social no estrangeiro não só na imprensa mas em canais de televisão. Entre muitos outros, destacamos ainda o The Economist que realça em título “Discussões reveladas revelam incerteza sobre cuidados de saúde transgénero” ou a Newsweek que escreve “A medicina de gênero precisa parar de tratar pacientes jovens como cobaias”.
Desde a acesa polémica que a WPATH se remeteu ao silêncio e o seu site encontra-se inactivo.
Esta organização tem um congresso mundial marcado para Lisboa, em setembro deste ano, na mesma altura em que será também realizada na capital portuguesa a conferência da Genspect, grupo internacional que junta profissionais de saúde de todo o mundo, pessoas detrans e os seus Pais e que tem defendido uma abordagem mais holística no tratamento das pessoas com disforia de género.
A Environmental Progress disponibiliza todos os ficheiros que suportam o seu relatório, incluindo capturas de ecrã do fórum interno com as mensagens dos vários médicos da WPATH (entre 2021 e 2024) e um vídeo de um painel de discussão interno.