Administração Biden pressionou para a retirada da idade mínima para cirurgias de mudança de sexo.

O New York Times expôs troca de emails entre Rachel Levine, secretária da Saúde de Biden e ela própria uma mulher trans, com a WPATH, influente organização mundial para a medicina transgénero (e que vai estar em Portugal em setembro).

Por Juventude em Transição

Não há mês que passe sem que surja um novo escândalo associado à lucrativa indústria de medicina de género e desta vez envolve a própria administração de Joe Biden. Uma notícia avançada pelo New York Times (NYT) dá conta de que Rachel Lavine, mulher trans que ocupa o cargo de secretária da Saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo (o equivalente a ministra da Saúde) pressionou a WPATH (World Professional Association for Transgender Health), auto-intitulada uma referência para a saúde transgénero e com grande influência junto de muitos países (Portugal incluído), para remover os limites de idade para cirurgias de mudança de sexo em adolescentes com questões de disforia de género.

Diz o NYT: “Trechos de e-mails de membros da WPATH relatam como o staff de Rachel Levine, secretária assistente de saúde do Departamento de Saúde e Serviços Humanos e ela mesma uma mulher transexual, os instou a retirar os limites de idade propostos nas diretrizes do grupo e aparentemente teve sucesso”.

As diretrizes originais, entretanto, alteradas, recomendavam a idade mínima de 14 anos para tratamentos hormonais, 15 anos para mastectomias, 16 para aumento de mama ou cirurgias faciais e 17 anos para cirurgias genitais ou histerectomias..

Recorde-se que a questão das intervenções hormonais e cirúrgicas em adolescentes e jovens adultos com menos de 25 anos (altura em que o pré-cortex frontal que determina a maturidade emocional está plenamente desenvolvido) tem gerado um aceso debate em quase todo o mundo. No ‘quase’ inclui-se Portugal onde um tema é ainda tabu apesar de também por cá se seguir a linha de orientação (Standards of Care) da WPATH, agora envolvida em mais esta polémica. 

 O NYT reproduz vários emails trocados entre membros da WPATH, um deles referindo Sarah Boateng, chefe de gabinete de Rachel Levine: “Ela (Rachel Levine) pergunta se as idades específicas podem ser retiradas (do Standards of Care).”

Outro e-mail: “Ela estava muito preocupada com o facto de que a idade (principalmente para cirurgia) afetaria o acesso aos cuidados para jovens trans e talvez adultos também. Aparentemente, a situação nos EUA é terrível e ela e a administração Biden temem que a inclusão da idade no documento possa piorar a situação. Ela nos pediu para removê-los” …  A denúncia foi feita por James Cantor, psicólogo e crítico feroz dos tratamentos de género para menores que recorrem a hormonas e cirurgias, que deu a conhecer os emails como prova de que o grupo consultivo internacional, a WPATH, estava a tomar decisões com base na política, e não na ciência, ao desenvolver as diretrizes de orientação para médicos de medicina de género em todo o mundo.

No olho do furacão

Foi apelidado do maior escândalo médico do século, foi exposto um pouco por todo o mundo, tem tido repercussões várias mas por cá, a comunicação social e a comunidade médica remeteram-se ao silêncio … A denúncia que recaiu sobre a WPATH (World Professional Association for Transgender Health), associação que tem sido uma base de referência nas questões de saúde transgénero em muitos países (Portugal incluído), veio demonstrar a falta de evidências médico-científicas no tratamento de pessoas trans.

A notícia surgiu em março deste ano de forma bombástica através de um extenso relatório de 242 páginas da autoria da jornalista Mia Hugues e publicado pelo Environmental Progress (EP), fundado pelo jornalista Michael Shellenberger. A denúncia veio comprovar muitas das suspeitas e críticas que se apontavam à WPATH, cuja abordagem afirmativa das pessoas com disforia de género através das terapias hormonais e cirúrgicas sempre levantou muitas dúvidas que se adensaram à medida que se acumulam os casos de jovens arrependidos que foram sujeitos a tratamentos e intervenções com consequências irreversíveis.

Uma abordagem afirmativa que acompanha o disparar de casos de pessoas trans, um pouco por todo o mundo. Recorde-se que também em Portugal, por semana, há uma média de 10 pessoas (dos quais um menor) a mudar de nome e género no Cartão de Cidadão (dados do Ministério da Justiça) e mais de uma cirurgia de sexo a ser realizada semanalmente nos hospitais públicos.

Denúncias

Escreveu então o The Guardian: “A transição médica das crianças tornou-se uma das questões mais controversas e polarizadoras do nosso tempo. Para alguns, é um escândalo médico. Para outros, é um tratamento que salva vidas. Assim, quando centenas de mensagens e ficheiros trocados num fórum interno de médicos e profissionais de saúde mental WPATH foram revelados, isso certamente despertou interesse. A WPATH descreve-se como uma ‘organização profissional e educacional interdisciplinar dedicada à saúde transgénero’. Mais significativamente, produz guias de orientação que, afirma, articulam o ‘consenso profissional’ sobre a melhor forma de ajudar as pessoas com disforia de género”.  Mas apesar do seu título pomposo, afirma o The Guardian, “a WPATH não é apenas um organismo profissional – uma proporção significativa dos seus membros são ativistas – nem representa a visão ‘mundial’ sobre como cuidar deste grupo de pessoas” até porque, sublinha-se, “não existe um acordo global sobre as melhores práticas”.

E as mensagens agora reveladas – apelidadas de arquivos WPATH – são “perturbadoras”, afirma o reputado jornal britânico. E dá exemplos: “Num dos vídeos, há médicos a reconhecer que os pacientes são por vezes demasiado jovens para compreenderem completamente as consequências dos bloqueadores de puberdade e das hormonas para a sua fertilidade. É sempre uma boa teoria falar sobre preservação da fertilidade com uma jovem de 14 anos, mas sei que estou a falar para uma parede em branco”, disse um endocrinologista do Canadá, entre risos da plateia presente no fórum. O médico refere-se à recomendação que é dada às raparigas que transacionam para rapazes, sujeitas a histerectomias (operação cirúrgica que consiste na remoção do útero) para congelarem óvulos em clínicas de fertilização – um negócio também em ampla expansão – caso um dia queiram assegurar a sua descendência.

Também no The Telegraph se deu grande destaque à polémica denúncia na sua edição de 12 de março, num texto com o título – “Os nossos piores receios sobre os tratamentos na saúde transgénero foram confirmados”. Refere-se no artigo que as orientações terapêuticas recomendadas pela WPATH são habitualmente apelidadas de “melhores práticas” pela Associação Médica Britânica, pelo Conselho Médico Geral e pelo Royal College of Psychiatrists e implementadas no NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido. Mas, sublinha-se, a WPATH não deveria ser encarada como um organismo de referência – “Muitos presumem que se tratava de um corpo profissional internacional de médicos altamente qualificados. Não é. Três quartos dos seus membros residem nos Estados Unidos e muitos são ativistas que defendem que qualquer pessoa que se identifique como trans possa exigir acesso a tratamento de afirmação de género, o que para as crianças significa bloqueadores da puberdade. Esta não é uma organização médica com qualquer autoridade formal. Qualquer um pode pagar algumas centenas de dólares para aderir”, salienta-se também no Telegraph, realçando que os padrões de cuidados (Standard of Care) da WPATH têm sido seguidos pelo NHS, pelo Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Género (GIDS), por grupos como Stonewall e Mermaids (filiada na ILGA Europa), Press for Change e pelo Governo Escocês. Tal como em Portugal onde a Estratégia de Saúde para as pessoas LGBTI (que está a ser aplicada nos centros de saúde) foi  implementada sob a coordenação da psiquiatra sexóloga Zélia Figueiredo, grande adepta das terapias afirmativas e da orientação da WPATH. Esta médica foi indigitada para o cargo pelo anterior governo PS e reencaminhada pelo atual governo.

Das mastectomias sem mamilos aos eunucos

No artigo do “Telegraph” dão-se alguns exemplos práticos do que foi partilhado no fórum interno da WPATH: “Os ficheiros do WPATH falam de mastectomias sem mamilos, incontinência provocada pelas cirurgias de mudança de sexo e “anulação” – isto é, criação de eunucos. Há médicos a falar de situações de cancro causado pelas terapias hormonais prescritas em adolescentes e em operações onde é feita uma vagina falsa com a manutenção do pénis”. Neste último caso tratou-se de um pedido de um homem que se assume como uma pessoa não-binária.

As mensagens revelaram uma frieza preocupante entre os profissionais em relação a graves problemas de saúde mental pré-existentes de pessoas com disforia de género. Um médico endocrinologista queixou-se do tempo de espera pedido pelo psiquiatra da equipa para a medicação com terapias hormonais de uma jovem com dissonância cognitiva, transtorno de stress pós-traumático, tendências esquizofrénicas e depressão. Outros participantes do fórum desconsideraram as preocupações do psiquiatra e reforçaram que provavelmente não há razão para esperar para iniciar a testosterona. Um dos médicos presentes nessa reunião afirmou mesmo que “em geral, a doença mental não é motivo” para adiar cirurgias de género. Um outro até se “vangloriou” de ter validado todas as pessoas que procuravam cirurgias, exceto uma, que “teve alucinações durante a sessão de avaliação”.

Os polémicos ficheiros que chegaram às mãos da EP por pessoas que participaram no fórum interno, foram tema de profuso debate em vários meios de comunicação social no estrangeiro não só na imprensa mas em canais de televisão. Entre muitos outros, destacamos ainda o The Economist que realça em título “Discussões reveladas revelam incerteza sobre cuidados de saúde transgénero” ou a Newsweek que escreve “A medicina de gênero precisa parar de tratar pacientes jovens como cobaias”.

Esta organização tem um congresso mundial marcado para Lisboa, em setembro deste ano, na mesma altura em que será também realizada na capital portuguesa a conferência da Genspect, grupo internacional que junta profissionais de saúde de todo o mundo, pessoas detrans e os seus Pais e que tem defendido uma abordagem mais holística no tratamento das pessoas com disforia de género.

A Environmental Progress disponibiliza todos os ficheiros que suportam o seu relatório, incluindo capturas de ecrã do fórum interno com as mensagens dos vários médicos da WPATH (entre 2021 e 2024) e um vídeo de um painel de discussão interno.

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