Pediatras americanos contra tratamentos irreversíveis em jovens trans.

A American College of Pediatricians e um grupo de associações médicas apelam ao uso de evidências científicas no tratamento de jovens com disforia de género

Por Juventude em Transição

O movimento ativista trans volta a sofrer novo revés e desta vez a flechada foi dada em conjunto por várias associações de médicos dos Estados Unidos, país que exportou conceitos como não-binário ou identidade de género para todo o mundo.

Há pouco mais de uma semana,  o Colégio Americano de Pediatras (American College of Pediatricians)  emitiu a  “Doctors Protecting Children Declaration”, uma declaração co-assinada por vários grupos médicos  e ainda profissionais individuais, que querem expressar a sua preocupação com os protocolos de tratamento atualmente seguidos nos hospitais dos Estados Unidos para crianças e adolescentes com disforia de género.

Conhecidas como “Terapia de afirmação de género”, estas intervenções – que incluem afirmação social com o uso de pronomes preferidos, a prescrição de bloqueadores de puberdade para os pré-adolescentes, o uso massivo de hormonas (testosterona e estrogénio) para os jovens e até cirurgias de mudança de sexo – têm sido vivamente recomendadas como o “Padrão de Cuidado” para o tratamento de jovens com questões identitárias. Mas, diz o American College of Pediatricians (ACP), “infelizmente, tais ‘tratamentos’ baseiam-se em evidências científicas mínimas e, até à data, não foi demonstrado que produzam os resultados esperados de diminuição da disforia ou da ideação suicida que muitas vezes a acompanha’.

 Na sua declaração, que contou com a presença de representantes de 18 associações, foram salientados os resultados do Cass Report, resultante da investigação liderada pela reputada pediatra britânica Hillary Cass e que está a ter impacto em todo o mundo.

 Divulgado em abril deste ano, recorde-se, o Cass Report resultou de uma investigação minuciosa em nome do Serviço Nacional de Saúde  da Inglaterra (NHS) e chegou à conclusão de que não era do interesse desses pacientes continuar essas terapias, tendo levado mesmo ao encerramento da maior clínica de género em Inglaterra, o Instituto Tavistock.

Esta medida seguiu os passos de outros países como a Suécia, a Finlândia, a Escócia e a Dinamarca, que chegaram à mesma conclusão ou a uma conclusão semelhante: as evidências não justificam a continuação de tais tratamentos em crianças e adolescentes. Na verdade, abordar os problemas de saúde mental frequentemente subjacentes que existem na maioria destas crianças – incluindo depressão, ansiedade ou autismo – deveria ser a principal prioridade, defenderam ainda os responsáveis da ACP, na conferência de imprensa realizada há duas semanas.

O grupo apelou “às principais organizações que influenciam os cuidados pediátricos neste país – como a Academia Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics – AAP), a Sociedade Endócrina, a Sociedade Endócrina Pediátrica e a Associação Médica Americana – a também seguirem as evidências científicas e descontinuarem a recomendação da terapia de afirmação de género”.

A influente American Academy of Peditrics, que tem uma representatividade muito mais elevada que a ACP e que segue os preceitos da abordagem afirmativa, tem vindo também a ser contestada pelos seus próprios membros que estranham as ligações entre a AAP e a indústria farmacêutica. Em denúncias feitas por “whistleblowers” a AAP é acusada de alterar as regras institucionais para bloquear a discussão dos pares, em congresso, e que visava uma eventual revisão da abordagem afirmativa, com os membros da AAP a limitarem-se a expressar o seu descontentamento nas caixas de comentários das redes sociais do organismo…

Cass Report, uma pedrada no pântano da ideologia

Foi há cerca de dois meses que foi publicado o Cass Review, o bombástico relatório que dá conta da investigação encomendada pelo NHS, o serviço de saúde público britânico, a uma reputada pediatra Hilary Cass, após as denúncias de má prática no Serviço de Identidade e Desenvolvimento de Género (Gids) integrado no Tavistock, o maior hospital de medicina de género da Inglaterra e País de Gales e de toda a Europa. Jovens pacientes e um grupo de profissionais do corpo médico do hospital, puseram a descoberto as incisivas pressões existentes no Tavistock para transacionar hormonal e cirurgicamente as crianças com questões de identidade, sem aprofundar outras comorbilidades como estados depressivos acentuados, autismo, traumas sexuais, homofobia interna, etc.

No seu relatório, Hilary Cass sublinhou que as crianças tratadas no GIDS, serviço direcionado só para menores, foram abandonadas à sua sorte devido “às evidências notavelmente fracas” em relação aos tratamentos hormonais e cirurgias a que foram sujeitas às mãos de médicos pouco criteriosos…

Ao longo dos últimos meses, o Cass Report tem gerado inúmeras reações no UK mas em todo o mundo, não só de profissionais de saúde mas figuras públicas que sempre se bateram em defesa das crianças, alertando para os riscos da medicalização excessiva nos tratamentos para pessoas com disforia de género.

Fora do circuito médico, uma voz tem ressoado de forma mais poderosa sobre todas as outras – a de JK Rowling. Há muito que a autora de Harry Potter denuncia os perigos da ideologia trans, seja pela intrusão de homens, que alegam ser mulheres trans, nos espaços e áreas reservadas às mulheres (não só casas de banho, mas nos desportos, prisões, centros de abrigo, etc), seja pela inesperada espiral de casos trans em pessoas muito jovens, muitos deles pela via do contágio social, seja pelos dúbios interesses envolvendo organizações LGBT que, com a ajuda de jornalistas transativistas, fizeram escalar esses casos.  

A Mermaids, a poderosa organização LGBTQ britânica, parceira da ILGA Europa, tem estado envolvida em várias polémicas, desde a distribuição de binders (espécie de espartilho para espalmar os seios tornando-o mais masculino, com fortes contra-indicações médicas) a menores sem o conhecimento dos pais até à inclusão, na sua direção, de pessoas com dúbias ligações a redes pedófilas.    

Todos estas polémicas têm sido denunciadas por JK Rowling, ganhando uma projeção meteórica. E a escritora não se tem esquecido, em todas elas, de apontar o dedo às celebridades que apoiaram publicamente a Mermaids no passado e onde se incluem, por exemplo, o duque e a duquesa de Sussex ou a estrela de Harry Potter, Emma Watson, acusando-as de lhe terem dado uma “influência sem precedentes”.

Quando Jacob Breslow, então membro da direção da Mermaids (a associada da ILGA Europa) surgiu associado a um grupo de apoio a pedófilos, JK Rowling escreveu no Twitter: “Agora aprendemos que a Mermaids nomeou um apologista da pedofilia como administrador e que o seu moderador online incentivou as crianças a migrarem para uma plataforma notória pela exploração sexual”, sublinhando que “esta é uma instituição de caridade que alcançou uma influência sem precedentes no Reino Unido” e que “não poderia ter conseguido tal feito sem o dinheiro e o apoio público de certas empresas e celebridades, que a impulsionou avidamente, embora os sinais de alerta já existissem há anos”. JK Rowling disse ainda que “os dedos da Mermaids estavam por toda a parte no desastre do Tavistock (onde estalou agora a polémica)”, uma vez que os membros associação parceira da ILGA Europa “tiveram permissão para entrar nas salas de aula, treinaram polícias e gozaram de uma influência sem precedentes sobre as políticas de saúde”. Breslow, que era na altura, estudante de pós-graduação em pesquisa de género na London School of Economics, acabaria por se demitir da associação LGBTQ.

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