Por Jet
Collin Adam nunca teve disforia de género até passar por uma violação, trauma que o psicólogo ignorou. Em seis meses estava a tomar uma dose cavalar de hormonas. Hoje tenta alertar consciências para os perigos da ideologia de género no Brasil.
Como começou a sua história de incongruência de género? Já sentia esse desconforto desde criança?
Nasci no sexo feminino, usava pronomes femininos, mas desde criança que não me interessava em brinquedos de menina e nas roupas que me queriam colocar… Preferia brincar com os rapazes, sentia sinais de que era diferente das outras crianças mas não sentia disforia ou problemas com o meu corpo… Desde os quatro anos que me sentia assim.
Como reagiu a sua família?
A minha mãe não aceitou. Comprava-me roupas ultra-femininas, não me deixava cortar o cabelo. O meu pai tinha problemas com drogas, era mais relax… Eu só tinha gostos diferentes mas a minha mãe não me deixou vivenciar isso… Só aos 19 anos, quando fui para a universidade, pude vivenciar essa vontade…
O que fez nessa altura, assim que se afastou da família?
Cortei logo o cabelo! Depois troquei as roupas femininas por masculinas, troquei o meu nome, primeiro só no meio social. Na altura estava dando uma novela na Globo, onde uma das personagens era um homem trans e eu identifiquei-me… Depois, os meus amigos eram LGBT e incentivaram-me bastante em todo esse processo.
Como lidou com essa diferença que sentia desde criança?
Eu sempre sofri com muita ansiedade, depressão durante toda a vida, desde os oito… Não sabia quem eu era, o que queria… A minha família era bem humilde, não havia dinheiro para psicólogos… Depois, os meus pais nunca levaram muito a sério, diziam que depressão é bobagem apesar da depressão ser bem visível, era de uma tristeza constante, tinha problemas na escola, não conseguia acompanhar os outros. Sofria bullying… O meu pai era viciado em droga, o ambiente em casa era bem insalubre, tudo isso pesava também sobre mim… Aos 13 anos tentei o suicídio por meio de medicação e também desenvolvi compulsão alimentar e vício de pornografia. Até hoje estou lidando com isso.
Como correu na universidade?
Sofri violência sexual por parte de um colega da universidade e aí caí num processo depressivo ainda mais profundo…Entrei em colapso nervoso e acabei por largar a universidade por causa dessa violência sofrida… O psicólogo que me começou a dar consultas era especializado em pessoas LGBT e passado poucos meses colocou-me logo em tratamento hormonal. Nessa altura, por causa da violação, aí sim, passei a sentir disforia com o meu corpo. Se sofremos uma violência sexual é lógico, vamos ter nojo do nosso corpo… Mas ele nunca entendeu que aquilo que eu lhe estava a relatar tinha a ver a violência sexual.. Em poucas sessões disse-me que eu estava a sentir disforia porque era um homem trans e que depois de passar pelo processo iria melhorar.
Como reagiu?
Eu introjetei aquilo dentro de mim e comecei a acreditar e a repetir isso – eu quero fazer isto, eu preciso fazer realmente isso… Hoje, no Brasil, só precisa de dizer no ambulatório que se é trans, que queremos fazer o processo de transição e já está… Mas quando eu fiz a transição, ainda era preciso autorização de um médico. Aí ele foi lá, dizendo que eu era um homem trans e passei para o endocrinologista que me começou a dar hormonas.
Quanto tempo passou entre o psicólogo e começar a tomar hormonas?
Cerca de seis meses. Quando comecei o tratamento no endocrinologista ele não pediu nenhum exame para verificar se eu tinha algum problema ou questão que me impedisse de tomar hormónios… Nenhuma verificação foi feita. Ele só me mandou tomar o hormónio numa dose elevada. Eu tenho ovários policísticos e nada disso foi levado em consideração. Aliás, o meu quadro piorou a este nível… Mas só soube quando parei a hormonização… A hormonização acabou com o meu corpo.
O que aconteceu?
As mudanças começaram a acontecer rápido… E não só na barba que começou a surgir. A testosterona acabou com o meu corpo: engordei bastante, o meu clitóris começou a crescer e o meu fígado ficou destruído. Antes da transição, eu não me incomodava com o meu corpo e passei a incomodar-me…
E em relação aos ovários policísticos, não agravou?
Sim, o uso da terapia hormonal também afetou os ovários policísticos e o facto de não ter feito o desmame, levou a que este problema agravasse de uma forma violenta… Ficava três meses menstruando, fiquei com anemia, os médicos não sabiam o que fazer… Punham-me a soro e mandavam-me embora. Aqui no Brasil, o sistema único de saúde é bem precário. Quando resolvi fazer a destransição, consegui obter ajuda através de uma médica de uma associação de mulheres feministas. Nos exames ela viu que a minha testosterona era muito alta devido aos ovários policísticos, e depois ficou ainda mais agravada com as hormonas… Em relação ao fígado, a minha médica até me perguntou se eu bebia em excesso e eu não toco em álcool… Ela nunca tinha visto um fígado assim de alguém que não bebe. Foi muito difícil… Nunca tive grana para médicos particulares. Só recentemente comecei a trabalhar com pesquisa científica, ganhei uma bolsa e estou a apurar o lastro dos danos causados pela hormonização… E todos estes danos em apenas seis meses, numa dose elevada.
Entretanto, resolveu alertar as consciências…
Sim, impressiona-me que algumas pessoas bem jovens, crianças até, não fazem a menor ideia das consequências que isso vai ter para a sua vida, muitas vezes nem os médicos sabem o que estão a fazer… É tudo muito experimental… E eu só fui até às hormonas. Outros vão até às cirurgias, tiram os seios, retiram o útero, fazem faloplastias, homens tiram os pénis e fazem vaginoplastias… São coisas que não tem reversão, a pessoa vai ficar mutilada para a vida… Eu senti que tinha de denunciar esta situação e partilhar a minha história e o que está a acontecer no Brasil. Abri página do Instagram, fiz o podcast…
Como tem sido?
Tenho tido vários contactos, várias partilhas. Há uma guerra de narrativas aqui no Brasil, há um processo muito violento de silenciamento por parte dos grupos LGBTQ… Há também uma série de políticas que foram aprovadas e começaram a ferir os direitos das mulheres.
Por exemplo?
Desde logo a questão de ir ao ambulatório para tomar hormonas. Deixou de haver muita curadoria… Nas escolas, as crianças podem adotar o nome social e qualquer um pode entrar no banheiro das meninas. Já tivemos casos de estupro feitos por mulheres trans (homens que transacionaram para mulheres). Estamos num momento político e social muito delicado. Estamos a ter casos cada vez mais escabrosos e por isso senti necessidade de falar, de partilhar a minha história.
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